A ex-primeira-dama Marisa Letícia Lula da Silva morreu nesta sexta-feira
(3) no Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo. A mulher do ex-presidente
Lula tinha 66 anos. Dona Marisa estava internada desde o dia 24 de janeiro, depois de ter sofrido um acidente vascular cerebral hemorrágico provocado pelo rompimento de um aneurisma.
Seguindo o protocolo oficial para constatar a morte cerebral, os
médicos submeteram dona Marisa a dois testes: o primeiro ocorreu às
12h05 e o segundo, às 18h05. O protocolo determina que o último exame
seja conduzido por outro médico para comprovar a perda definitiva e
irreversível das funções cerebrais. O óbito foi constatado às 18h57,
segundo boletim médico.
Na quinta, um boletim médico divulgado pelo hospital informou que um
doppler transcraniano identificou a ausência de fluxo cerebral. Em
seguida, Lula publicou em seu pefil no Facebook uma mensagem agradecendo
o carinho e informando que a família autorizava a doação de órgãos.
"A família Lula da Silva agradece todas as manifestações de carinho e
solidariedade recebidas nesses últimos 10 dias pela recuperação da
ex-primeira-dama Dona Marisa Letícia Lula da Silva. A família autorizou
os procedimentos preparativos para a doação dos órgãos", diz o post.
Depois, a página do Facebook do ex-presidente atualizou a foto de perfil
e colocou uma imagem do casal sorrindo.
Quando foi internada, dona Marisa passou por um procedimento de emergência,
que durou cerca de duas horas, para conter a hemorragia no cérebro. Os
médicos fizeram uma arteriografia cerebral para localizar a lesão e
depois introduziram um cateter até a região afetada para estancar o
sangramento.
Na quarta-feira (25), Marisa Letícia teve de passar por outro procedimento cirúrgico.
Desta vez, para a "passagem de um cateter ventricular para monitoração
da pressão intracraniana", como informou o hospital. A decisão dos
médicos ocorreu após "avaliação tomográfica de crânio para controle de
sangramento cerebral”.
Na sexta-feira (27), dona Marisa passou por uma tomografia para verificar se tinha ocorrido melhora na infecção que havia se formado em seu cérebro.
Ela foi acomodada em uma cama térmica para baixar a temperatura do
corpo, que normalmente fica perto dos 35°C, para até 25°C. O objetivo
era diminuir o metabolismo e, junto com ele, a atividade cerebral, para
que o cérebro conseguisse absorver de forma mais rápida o excesso de
sangue acumulado na caixa craniana.
Um exame realizado na segunda-feira (30) detectou a presença de trombose venosa profunda nas veias das pernas. Os médicos realizaram a passagem de um filtro de veia cava inferior para prevenir a ocorrência de embolia pulmonar.
Na terça (31), os médicos tiraram a sedação. Na quarta (1º), ela teve
uma piora no seu quadro clínico no início da noite e voltou a ser
sedada. A pressão intracraniana e a inflamação no cérebro tinham
aumentado. O quadro clínico ficou irreversível, segundo os médicos.
Visitas
Depois da divulgação do boletim médico, amigos foram ao Sírio-Libanês
prestar solidariedade à família de Lula. O também ex-presidente Fernando Henrique Cardoso foi um dos que se encontraram com o petista. O encontro dos dois foi fotografado e as imagens, postadas nas redes sociais de Lula.
Os senadores petistas Lindbergh Farias, Gleisi Hoffmann e Humberto
Costa chegaram juntos e não quiseram falar com a imprensa. Depois, os
ex-ministros Gilberto Carvalho, Celso Amorim e Eleonora Menicucci também
entraram no hospital.
Militantes do Partido dos Trabalhadores e da sindicalistas da CUT
também prestaram homenagem à ex-primeira-dama na porta do hospital. Eles
colocaram rosas e fizeram orações.
À noite, o presidente Michel Temer foi visitar Lula com uma comitiva
formada por José Sarney (PMDB), ex-presidente da República; José Serra
(PSDB), ministro de Relações Exteriores; Eunício Oliveira (PMDB), novo
presidente do Senado; Helder Barbalho (PMDB), ministro da Integração
Nacional, e dos senadores Renan Calheiros (PMDB), Eduardo Braga (PMDB)-,
Edison Lobão (PMDB) e Cassio Cunha Lima (PB).
Ao chegarem ao hospital, Temer e comitiva foram hostilizados por um grupo de manifestantes.
Na sexta, a ex-presidente Dilma Rousseff visitou Lula no hospital.
Segundo a assessoria de imprensa do Instituto Lula, Dilma chegou ao
hospital por volta das 11h30, e almoçou com Lula. Dilma entrou no
hospital sem ser vista.
Lula recebeu Dilma na mesma sala onde encontrou FHC. Na quinta, depois
que a família Lula havia autorizado o início dos procedimentos para
doação de órgãos e um boletim médico informou que Dona Marisa ficou sem
fluxo cerebral, Dilma já havia divulgado um comunicado nas redes sociais
em apoio a Lula.
No texto, Dilma disse que Dona Marisa "foi o esteio da família", para
que Lula pudesse se dedicar à carreira política, e afirmou: "estamos
juntos, presidente Lula, agora e sempre".
Biografia
Dona Marisa Letícia nasceu em São Bernardo do Campo, no ABC paulista,
em 7 de abril de 1950. Filha de imigrantes italianos de origem
camponesa, tinha como sobrenome de solteira Rocco Casa e passou a
infância no sítio da família – que veio a dar origem ao Bairro dos Casa
na cidade.
Antes de se casar com Lula, Marisa Letícia já havia sido casada com um
taxista com quem teve um filho, chamado Marcos, adotado pelo
ex-presidente quando tinha 10 anos de idade. O primeiro marido de Marisa
foi assassinado durante um assalto.
Viúva, ela conheceu Lula no Sindicato dos Metalúrgicos. Poucos meses
depois, em 1974, os dois se casaram. O casal teve três filhos: Fábio,
Sandro e Luís Cláudio.
Em 1980, ano em que Lula e outros líderes sindicais foram presos pelo
regime militar, Marisa Letícia foi uma das principais organizadoras de
um protesto para denunciar a prisão do marido. No mesmo ano, a
ex-primeira-dama acompanhou de perto a criação do PT. Em entrevistas,
ela se orgulhava de ter sido a responsável por costurar a primeira
bandeira do partido.
"A primeira bandeira do PT eu é que fiz. Tinha um tecido vermelho,
italiano, um recorte, guardado há muito tempo. Costurei a estrela branca
e ficou lindo. Minha casa era o centro. Foi assim que começou o PT",
disse em 2002, segundo o acervo do jornal "O Globo".
Após a criação do PT, dedicou-se às campanhas de Lula à Presidência da
República. Durante os comícios, era comum vê-la ao lado do marido ou
atuando sozinha cumprindo compromissos para pedir voto ao petista.
Durante os dois mandatos de Lula como presidente, ficou famosa
nacionalmente e era chamada de dona Marisa por Lula e pela imprensa. Foi
criticada pela oposição por não ter se envolvido diretamente em
projetos sociais, atribuições que, tradicionalmente, são realizadas pela
primeira-dama.
Em 2004, foi centro de uma polêmica por ter determinado aos
funcionários do Palácio da Alvorada, residência oficial do presidente da
República, que colocassem nos jardins novos canteiros de flores
vermelhas em formato de estrela, símbolo do PT.
Denúncias
Dona Marisa, assim como Lula, foi alvo de denúncias na Operação Lava Jato.
Um dos casos envolve um apartamento triplex do Edifício Solaris, em
Guarujá, no litoral de São Paulo. Ela foi denunciada pelo Ministério
Público Federal (MPF) por lavagem de dinheiro na investigação que aponta
irregularidades na aquisição e reforma do imóvel.
O juiz Sérgio Moro, da Justiça Federal do Paraná, aceitou a denúncia e a ex-primeira-dama era ré na ação penal, juntamente com Lula e outras seis pessoas.
A denúncia afirma que Lula recebeu propina de forma dissimulada, por
meio da reserva e reforma do apartamento. Como mulher do ex-presidente,
Marisa também teria se beneficiado dos recursos ilícitos. Por meio de
advogados, a ex-primeira-dama sempre negou qualquer irregularidade e
disse repudiar as acusações.
Por G1 São Paulo
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