Após quase um ano preso injustamente, o vendedor Atercino Ferreira de
Lima Filho, de 51 anos, foi solto na manhã desta sexta-feira (2). Ele
foi condenado a 27 anos de prisão por abusar sexualmente dos filhos
quando eles tinham 8 e 6 anos e o Tribunal de Justiça de São Paulo o absolveu unanimamente nesta quinta-feira (1º).
"Gostaria de agradecer a Deus muito, a minha esposa, aos meus amigos.
Quero ir para casa, comer uma pizza, cervejinha com meus amigos, curtir
minha família, que eu mais amo e mais quero na minha vida", disse ao
sair da Penitenciária José Parada Neto, em Guarulhos, na Grande São
Paulo.
"Queria agradecer meus advogados que foram o máximo e sem Deus
primeiro, e sem a força deles eu hoje estaria aqui preso", completou.
A absolvição foi fundamentada nos depoimentos dos filhos, que contaram
ser obrigadas a mentir sobre os abusos para prejudicar o pai, que estava
separado da mãe.
O advogado de Atercino, Paulo Sérgio Coelho, afirmou que os filhos ficaram sem visitar o pai por quase um ano.
"Os filhos de Atercino ficaram 11 meses sem poder sequer visitar o pai
aqui na Penitenciária em Guarulhos. Como até então eles eram vítimas de
um processo de abuso sexual, não podiam ter contato com o preso. Com
Atercino em liberdade, tanto a família quanto os advogados disseram que
não pretendem acionar judicialmente a mãe que deu início às denúncias",
disse.
Na saída da penitenciária, ao lado do pai, a filha Aline disse que quer
“valorizar cada minuto, cada segunda, porque família é o que a gente
tem de mais precioso”.
"Quero viver em harmonia, o que foi tirado da gente", disse o filho Andrey.
Atercino e a mulher se separaram em 2002 e os filhos Andrey e Aline
ficaram sob a guarda da mãe, que foi morar na casa de uma amiga. Lá, os
irmãos contam que sofriam maus tratos e fugiram de casa. Eles moraram em
orfanato e quando saíram procuraram pelo pai e começaram uma batalha
para provar a inocência dele.
Em 2012, Andrey registrou em cartório uma escritura de declaração em que
afirmava que nunca havia sofrido abusos por parte do pai. "Eu, quando
criança, era ameaçado e agredido para mentir sobre abusos sexuais."
Um projeto que começou nos Estados Unidos, Innocence Project, que tem a missão de tirar da cadeia pessoas que foram presas injustamente, ajudou a família.
Dora Cavalcati, diretora do Innocence Project, explica que os laudos da
época da denúncia foram negativos para violência sexual. "Uma psicóloga
forense atestou, depois de conversar longamente tanto com o Andrey
quanto com a Aline, que eles não tinham nenhuma sequela de violência
paterna por condutas de abuso sexual. [Atestou] que, ao contrário, eles
foram crianças que cresceram em meio aos maus tratos infringidos pela
mãe e pela companheira da mãe."
No total, ele respondeu injustamente pelo caso por 14 anos:
Cronologia do caso:
2002
Atercino Ferreira de Lima Filho e sua mulher se separam. Os filhos
Andrey, 8, e Aline, 6, vão morar com a mãe, na casa de uma amiga
2004
Ministério Público denuncia vendedor por abuso dos filhos quando ainda era casado
Ministério Público denuncia vendedor por abuso dos filhos quando ainda era casado
2012
Andrey registra em cartório que foi forçado a acusar o pai mediante maus tratos
Andrey registra em cartório que foi forçado a acusar o pai mediante maus tratos
2014
Caso chega ao Supremo Tribunal Federal e a ministra Rosa Weber rechaça pedido e pede que fatos e provas sejam reexaminados
Caso chega ao Supremo Tribunal Federal e a ministra Rosa Weber rechaça pedido e pede que fatos e provas sejam reexaminados
2015
Aline faz declaração semelhante ao irmão negando os abusos
Aline faz declaração semelhante ao irmão negando os abusos
2017
Atercino é preso em abril, após o caso ser transitado em julgado. Os filhos, na época, moravam com o pai
Atercino é preso em abril, após o caso ser transitado em julgado. Os filhos, na época, moravam com o pai
2018
Atercino sai Penitenciária José Parada Neto - Guarulhos I, onde cumpria pena
Atercino sai Penitenciária José Parada Neto - Guarulhos I, onde cumpria pena
G1/SP
0 Comentários