Apesar
de gostar de águas tropicais temperadas, o tubarão-martelo-panã –
espécie ameaçada de extinção – raramente é observado em águas
brasileiras. Um exemplar da espécie, entretanto, foi avistado no litoral
de João Pessoa, na Paraíba, no dia 21 de março. O vídeo do avistamento
foi divulgado hoje (12) pelo projeto Megafauna Marinha Ameaçada, apoiado
pela Fundação Grupo Boticário.
“Há
registros de capturas por pescadores de exemplares fêmeas grávidas na
Paraíba. As fêmeas se aproximam da costa para dar à luz, e é aí que
ocorre a pesca incidental”, explica o pesquisador Wilson Oliveira
Junior, que faz parte do projeto.
“A
gente espera continuar vendo outros indivíduos durante nossa pesquisa e
adquirir mais conhecimento sobre a área de vida do tubarão-martelo-panã
e de outras espécies. Com isso, podemos começar a propor áreas marinhas
protegidas que incluam os locais em que eles ocorrem”, disse o
oceanógrafo.
Tubarões brasileiros
O
Brasil é o sétimo país do mundo em diversidade de peixes cartilaginosos
(tubarões, raias e quimeras) e o nono em espécies marinhas em geral.
Segundo o professor aposentado, biólogo e oceanógrafo da Universidade
Federal da Paraíba (UFPB) Ricardo Rosa, especialista em tubarões e
raias, o litoral brasileiro possui várias espécies ameaçadas pela pesca
excessiva.
Das
146 espécies marinhas de tubarões e raias que vivem no litoral do
Brasil, 54 foram consideradas ameaçadas pelo Instituto Chico Mendes de
Conservação da Biodiversidade (ICMBio), segundo dados do Livro Vermelho da Fauna Brasileira de 2018. Destas, 27 são consideradas criticamente em perigo – categoria de maior risco de extinção.
Leis de conservação
Apesar
de abrangente, a legislação brasileira para conservação de espécies
ainda não é amplamente aplicada. Segundo relata o gerente de Conservação
de Biodiversidade da Fundação Grupo Boticário, Emerson Oliveira,
“normativas para as áreas protegidas, espécies ameaçadas e regulação da
pesca e extrativismo não são efetivamente cumpridas e fiscalizadas.”
Segundo
Oliveira, “autoridades responsáveis por políticas públicas de
conservação não dedicam a devida importância aos estudos científicos e
pesquisas realizadas na área e, geralmente, não levam em conta a
importância das informações reveladas. Casos em que estudos científicos
resultaram em iniciativas de preservação ainda são raros, mas existem”.
Oliveira
avalia que pesquisas como a que registrou a presença do tubarão-martelo
no litoral paraibano devem embasar políticas públicas e ações de
proteção da biodiversidade, já que são exemplos claros de aplicação do
conhecimento científico no entendimento da fauna brasileira.
O
conhecimento tradicional e o envolvimento da população nas iniciativas
de conservação também são fatores importantes para o sucesso das
políticas no setor. Os esforços para preservação, porém, devem ser
contínuos e ajustados à medida que o panorama local se transforma,
defende Alexander Turra, membro da Rede de Especialistas em Conservação
da Natureza (RECN).
“As
políticas públicas sofrem uma lacuna de implementação, que é a
dificuldade de colocar em prática e garantir que haja continuidade e
correções de rumo. Os instrumentos são muito interessantes, mas
patinamos com essa lacuna. O que falta para melhorar é o envolvimento
das pessoas”, disse Turra.
Agência Brasil
0 Comentários