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Ministério da Saúde aprova nova técnica para combater as varizes no SUS

No mês de Janeiro, a Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no SUS (CONITEC) do Ministério da Saúde aprovou a incorporação de uma nova técnica para o tratamento de varizes no SUS: a escleroterapia com espuma. A expectativa é que o procedimento ajude a diminuir as filas de espera de pacientes por um tratamento. Atualmente estima-se que 70% da população adulta tenham algum tipo de varize.

O angiologista Marcelo Ruettimann Liberato foi pioneiro na aplicação deste tipo de tratamento no SUS, em Salvador, e em entrevista para o Blog da Saúde, esclarece sobre o que são varizes, como funciona a escleroterapia, e qual a importância deste novo procedimento para a saúde pública no país.  

Leia a entrevista:

Blog da Saúde: O que são varizes e por que elas são um problema grave?
 
Marcelo Ruettimann Liberato: As varizes representam um problema de saúde pública no Brasil. Elas são veias dilatadas que deveriam transportar o sangue das pernas para o coração. Como elas estão dilatadas, a válvula fecha e impede que o sangue desça. Na veia dilatada a válvula não funciona. O sangue passa pelo meio e a pessoa começa a acumular sangue nas pernas. Isso cria uma reação inflamatória durante muitos anos. A inflamação chega ao ponto de necrosar a pele abrir a ferida, que é a úlcera varicosa.

Eu não tenho nenhuma restrição em dizer que nós temos milhões de brasileiros com varizes, e mais de um milhão pelo menos com úlcera causada pelas varizes. Então é muito importante que o governo faça o que está fazendo, que é buscar alternativas para resolver o problema desta população que com cirurgia convencional, que é uma excelente técnica, não está conseguindo resolver o problema.

É demorado, exige corte, anestesia, internação, e com técnica alternativa, feita no ambulatório, como a escleroterapia com espuma, nós podemos não só resolver o problema da doença das varizes fechando eliminando as varizes e fechando as feridas, mas podemos também resolver o problema das longas filas de espera que aguardam por um tratamento.

Blog da Saúde: Existem varizes menos e mais graves. Como funciona isso? Elas vão progredindo com o tempo?
 
Marcelo Ruettimann Libertato: Existem dois tipos básicos de alteração, e uma classificação de varizes que vai de um até seis em relação a gravidade. O grau um são veias estéticas, micro vasos. Essas veias não precisam de um tratamento por uma doença, vai mais da autoestima da pessoa. Inclusive o SUS não trata pessoas com grau um, nós só tratamos pessoas do grau dois em diante, a maioria com graus avançados. Essas varizes são classificadas de acordo com o seu tamanho de diâmetro e as alterações que elas causam na pele da perna das pessoas que têm as varizes.

Então para que a gente tenha uma noção, o grau um são micro vasos, o vaso bem pequeno. O grau seis são vasos grandes com úlcera, com ferida. Entre o grau um e o grau seis existem as etapas que progressivamente vão piorando. Não quer dizer que uma pessoa com grau um de varizes vai ter uma ferida no futuro. Mas as pessoas que tem varizes grandes, se não tratar, vão evoluir para situações mais graves de maior inflamação. A pele fica escura, começa a ter dor, inflamação, e o último estágio, a ferida.

As varizes são uma doença progressiva, crônica, que vai piorando com o tempo se não for tratado. Por isso é importante tratar as pessoas que têm feridas de varizes, mas também pegar as pessoas que não tem ferida ainda, e tratar para que aquilo não piore e aquela pessoa não continue sofrendo com o incômodo de ter varizes.

Blog da Saúde: Existe um grupo mais suscetível a desenvolver as varizes?
 
Marcelo Ruettimann Liberato: O fator principal é a hereditariedade. É o que passa de mãe, de pai, para filho, de avô e de avó para neto, então tem um fator hereditário muito forte. Genético mesmo. E existem fatores que aumentam a predisposição como pressão alta, obesidade, trabalhar muito tempo em pé, faz com que as varizes elas cresçam mais rápido. Além disso, as varizes existem em maior quantidade nas mulheres, nas pessoas com mais de 40 anos, nos obesos e durante a gravidez.

Blog da Saúde: E como funciona a escleroterapia com espuma? 
 
Marcelo Ruettimann Liberato: Nós temos duas maneiras de tratar uma veia com varizes: ou a gente arranca com cirurgia, ou a gente fecha para que ela não deixe mais o sangue acumular ali dentro. Fechando você destrói a veia, e o sangue vai para as veias boas que funcionam.  

A espuma é um esclerosante a base alcoólica e detergente, ou seja, o detergente destrói a parede da veia na sua parte gordurosa. A espuma fecha a veia, ela vira um cordão de fibrose duro, e o organismo vai absorvendo esse cordão. Dependendo do tamanho da veia, ela vai sumir com um mês ou pode demorar até seis meses para sumir completamente. Mas imediatamente quando ela é fechada, não causa mais o problema de acumular sangue, inflamação, dor, sensação de peso, cansaço, e o sofrimento que as pessoas sentem com esse tipo de problema.

Não precisa de corte, não precisa anestesiar. Você pega a veia com uma agulha bem fininha, injeta espuma, ela vai fechar a veia, e você vai acompanhar o doente durante esse processo. Um mês mais ou menos de aplicações e revisões. Depois de um mês o doente sem ferida está curado, e os doentes com ferida demoram um pouco mais, porque precisa de atendimento especializado só para ferida. Mas a gente consegue curar a grande maioria dos doentes com essa técnica.

Blog da Saúde: Essa técnica já é considerada consolidada. Como surgiu e de onde veio essa iniciativa de começar a tratar os pacientes no SUS?
 
Marcelo Ruettimann Liberato: Eu estava tendo dificuldade para tratar os meus pacientes com cirurgia, não porque minha instituição não me apoiasse, porque ela me apoiava. Eu fiquei anos sendo o coordenador do programa de cirurgia de varizes pelo SUS, até que eu senti que não estava dando vencimento a uma lista de espera gigante de pacientes que a cada ano que passava só aumentava.

Fui buscar uma alternativa em uma técnica que já está bem divulgada, e consolidada há pelo menos 15, 20 anos. Então eu comecei a usar a título de pesquisa, com aprovação pelo comitê de ética e uma bolsa que o hospital me cedeu, eles queriam ver os resultados. Eu disse que não era uma pesquisa experimental, é simplesmente uma pesquisa para provar que eu consigo tratar os doentes que tem uma situação grave pelo SUS. Até que em 2013 eu mostrei os resultados da minha pesquisa, que existia uma viabilidade e sustentabilidade, seja sanitário com a cura, seja econômico para que a gente tirasse as pessoas daquela bola de neve de fazer curativo sem fechar a ferida durante 10, 15, 20 anos, e o tratamento foi aprovado pelo Município de Salvador, pelo secretário de saúde na época.

Nós conseguimos resultados surpreendentes. Quando eu comecei a utilizar pelo SUS, fiquei impressionado com os resultados que eu consegui na pesquisa. Eu comecei a me perguntar, e perguntar aos colegas pelo Brasil “mas você usa a espuma para tratar seu doente do SUS?”, “Ah não, não uso”. “Mas por que você não usa?”, “Ninguém paga”. “È só por isso?”, “È”. Ai eu pensei que a gente tinha que mudar essa realidade.
Então eu comecei a minha via crucis de lutar por essa população que mudou minha vida pessoal e profissional. Eu me tornei mais humano, me tornei mais gente. Hoje eu dedico 80% da minha prática ao paciente do SUS e falo isso com muito orgulho e muita felicidade. Agora eu tenho a grata surpresa de que um órgão importante do governo, através de um secretário, de um Ministro da saúde está reconhecendo e está nos ajudando. E não é minha causa, é a causa de milhões de brasileiros. Eu estou muito feliz e orgulhoso de poder tá ajudando um pouco nesse processo.

Blog da Saúde: O senhor gostaria de complementar mais alguma coisa?
 
Marcelo Ruettimann Liberato: Eu estou aqui porque eu tenho certeza que milhões de pessoas vão se beneficiar com isso, então é um dia de muita emoção para mim.  Eu quero agradecer ao Ministério da Saúde, e a todos aqueles que de alguma forma estão ajudando as pessoas que realmente precisam.

Assista a reportagem da TV Saúde:


Aline Czezacki, para o Blog da Saúde

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