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Cintura baixa e culto à magreza: por que a moda 'y2k' acende alerta sobre transtornos alimentares?

 casal "Bennifer" reatouídolos do tempo do Furacão 2000 estão de volta às paradas e a calça de cintura baixa é moda de novo, para desespero de muitos. Sim, os anos 2000 estão com tudo. E, com eles, voltaram também alguns fantasmas dessa época. Por exemplo, o culto à magreza escancarado na moda — e a perigosa pressão em torno disso.

É um dos principais assuntos das redes. Vídeos com a hashtag "#y2k" ("year 2000" ou "ano 2000", em português) tem mais de 7 bilhões de visualizações no TikTok. Boa parte deles relembra o estilo e a estética de 20 anos atrás, mostrando como adaptar tudo isso à moda de hoje.

Para quem tem intimidade com a indústria fashion, não é nenhuma surpresa. "Na moda, existe o que chamamos de ciclo de 20 anos. A cada 20 anos, começamos a revisitar as estéticas que foram fortes 20 anos atrás", diz Sofia Martellini, analista da empresa de previsão de tendências WGSN.

E a geração Z, a primeira que já surgiu digital, é especialmente nostálgica. Nascida depois da virada do milênio, essa turma cresceu junto com a dependência da internet e a importância das redes sociais. Suas lembranças de infância estão todas documentadas em formato jpg, mp3, mp4, txt etc.

Por isso, em 2022, o estilo dos anos 2000 ficou mais popular justamente entre os novinhos: adolescentes e jovens adultos, que mal se lembram ou nem viveram essa época. "Não é uma nostalgia de um tempo em que eles viveram. É uma ideia desse tempo", conclui Martellini.

O culto à magreza na moda é mais antigo que qualquer hit da Britney. "A magreza nunca saiu de moda. Desde os anos 90, quando começou o 'heroin chic' [estética da magreza extrema, associada ao uso de heroína ou outras drogas], o corpo muito magro nunca deixou de ser a maior referência", afirma a analista de tendências.

Só muito recentemente, por causa da pressão por mais diversidade, algumas grifes passaram a incluir modelos maiores e pensar em roupas para corpos mais reais. Mesmo assim, em muitos casos, esse debate parece ser incorporado muito mais por uma questão publicitária.

Um bom exemplo é a capa da revista "iD" com a modelo considerada plus size Paloma Elsesser usando a polêmica minissaia de cintura baixa da Miu Miu. O que falta em tecido na peça, fenômeno da moda no primeiro semestre de 2022, sobra em inspiração nos anos 2000.

A capa surpreendeu por quebrar o padrão que geralmente é associado a esse tipo de peça, mas a Miu Miu acabou sendo criticada porque, na loja, para os consumidores, só vende minissaia até o tamanho 46.

A saia da Miu Miu numa modelo plus size só causou tanto burburinho porque, no mundo da moda e das celebridades, uma peça tão curta e de cintura tão baixa quase sempre é vista em quem tem a barriga chapada e as pernas finas. Ou seja, em corpos muito magros.

Minissaia da Miu Miu, divulgada quase sempre em corpos muito magros, foi fenômeno da moda no primeiro semestre de 2022 — Foto: Divulgação

Minissaia da Miu Miu, divulgada quase sempre em corpos muito magros, foi fenômeno da moda no primeiro semestre de 2022 — Foto: Divulgação

Isso mostra como as roupas minimalistas de 20 anos atrás excluíam escancaradamente a maioria dos corpos. Basta ver como eram os corpos dos ícones da moda naquela época: Paris Hilton, Britney Spears, Lindsay Lohan, as irmãs Olsen (em 2004, aos 18 anos, Mary-Kate Olsen chegou a ser internada para tratar anorexia).

Há quem diga que, nos anos 2000, o acessório mais cobiçado da moda era a magreza. Junte a isso o início da popularização das redes sociais, um terreno perigoso de estímulo aos transtornos alimentares.

Blogs e páginas com informações sobre como emagrecer de forma não exatamente saudável se espalharam pela internet, e colocaram a saúde de uma geração em risco.

Depois, o padrão mudou. Nos anos 2010, veio a era dos corpos volumosos -- ainda magros, mas mais curvilíneos. Uma época representada pela figura das irmãs Kardashian.

Mas, agora, a sensação nas redes é de que tudo está diminuindo de novo. Celebridades como Bruna Marquezine, Rafa Kalimann e Anitta perderam peso nos últimos anos. Até Kim Kardashian -- símbolo máximo do padrão curvilíneo dos anos 2010 -- adotou um visual mais magro.

Se, nos anos 2000, alguns pais se preocuparam pela primeira vez com a possibilidade dos filhos desenvolverem transtornos alimentares, hoje o problema afeta jovens cada vez mais novos, segundo a nutricionista Imamura.

Um dos fatores por trás disso, diz ela, é o contato precoce com padrões de beleza na internet. "O TikTok, por exemplo, tem muito conteúdo prejudicial, como vídeos que prometem ensinar a perder peso de forma rápida. Além disso, há corpos expostos o tempo todo. Isso gera muita comparação".

Em suas diretrizes, a rede diz excluir conteúdos que possam induzir transtornos alimentares. Mas nem sempre a influência acontece de forma tão direta.

"Os anos passam e essas coisas acabam sendo repaginadas. Hoje, é quase inviável que o 'heroin chic' dos anos 90 seja cultuado abertamente, mas existe a onda do bem-estar, do 'wellness', que também reforça um padrão limitado."

Se a obsessão pela vida mais saudável ou a relação com a comida gera sofrimento ou prejuízo na vida social, isso pode ser sinal de um transtorno alimentar. Mas, nos adolescentes, os indícios costumam ser mais difíceis de perceber, explica a nutricionista.

"Eles não necessariamente irão começar uma dieta restritiva, mas podem diminuir quantidades, cortar radicalmente frituras, doces e outros alimentos que gostam. Às vezes, isso é entendido pelos pais como uma mudança saudável. Podem aplaudir e até incentivar esse comportamento, mas é preciso ter atenção."

Imamura cita alguns comportamentos típicos do transtorno alimentar em pessoas mais jovens, que podem ser sinais de alerta para os pais:

Restringir a alimentação gradualmente ou decidir parar de comer algum grupo específico de alimentos (carboidratos, por exemplo);

Ficar mais tempo sem comer;

Ter interesse excessivo no rótulo dos alimentos, buscando informações sobre calorias e nutrientes;

Mudar repentinamente de rotina (por exemplo, passar do sedentarismo direto à prática de exercício constante e intensa)



Fonte: G1

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